
A cabeça do anjo sem auréola luminosa destacava, no corpo quieto, sua aprumada figura. Fendas abertas sitiavam-lhe os movimentos: boca e olhos esgazeados de espanto criavam à sua volta um trepidar anónimo; um visionário estado de vigília que antecede as aparições. Não sonho. Mas sim, é quase um sonho; uma verdade latente a desfazer outra verdade um subsistir estranho na aprumada decrepitude de quem pretende mentir honestamente. Fórmula de autodestruição de quem caminha deliberadamente para a cruz. Mergulhou o anjo seu olhar acutilante sobre o mundo e disse uma absurda futilidade numa voz de oráculo: - a mulher nasceu mais velha que o homem. Daí em diante fecharam-lhe o corpo num jazigo de vidro.
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E esta mulher encontrou os anjos!