
Sacudi do poleiro o anjo da guarda que não me guardou e atalhei pelo caminho das giestas. Demarquei com precisão os limites do abismo: desci os degraus de ferro que me levaram à escuridão da cave e subi pelo pé do feijão até tocar com a ponta dos dedos o algodão doce das nuvens. Atravessei a nado o deserto que nos separava e sucumbi de sede num mar de rochas salgadas. Tu estiveste em ambos os lugares e reconheci-te logo que cheguei: eras a sombra refletida na luz parda e eu, a menina de franja encostada à parede. No meu ombro, sobranceiro outro anjo da guarda se empoleirou e me disse baixinho (entre esgares e sorrisos) que eras tu o diabo escolhido. De olhos ainda mal abertos rocei as mãos pelas tuas brasas e atenta ao som dos guizos passei a dar mais atenção aos detalhes.
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